Autocuidado já não cabe mais na esfera da beleza. Ele se tornou linguagem cultural, estética de comportamento e, sobretudo, uma forma de expressar identidade. Em 2025, falar de moda é inevitavelmente falar de wellness (ou “bem-estar”) não como promessa de consumo, mas como tradução de valores que se expandiram: tempo, equilíbrio, durabilidade.

O tempo como novo luxo

Durante muito tempo, status esteve ligado a posse de objetos raros. Hoje, ele se mede de outro modo: pela liberdade de agenda. Quem pode frequentar a academia às duas horas da tarde, almoçar sem pressa ou dedicar uma hora à meditação está, de certo modo, exibindo um privilégio maior do que qualquer logotipo. O novo luxo é ter tempo para cuidar de si.

Esse comportamento se reflete no vestir. O chamado athleisure (ou “espírito esportivo no cotidiano”) não significa ir trabalhar com roupa de academia, mas sim sinalizar, no cotidiano, uma vida que inclui saúde e movimento. Vestir peças funcionais e confortáveis comunica ao mundo que o autocuidado não é exceção, mas parte integral da rotina.

Wellness como estética cultural

A cor escolhida pela Pantone para 2025, o Mocha Mousse, traduz esse espírito: um marrom suave, aveludado, que remete a aconchego, estabilidade e calma. Tons terrosos, neutros e o minimalismo se espalham em roupas, interiores e acessórios, criando atmosferas que conversam com equilíbrio e desaceleração. A estética do wellness é clean, mas não fria; funcional, mas não impessoal.

E há símbolos desse estilo em toda parte, seja um tênis “chunky” ao lado de peças fluídas; sandálias Havaianas que apareceram em colaborações europeias, traduzindo brasilidade com leveza artesanal ou o copo Stanley que se transformou em verdadeiro ícone de lifestyle, demonstrando a atenção aos detalhes que compõem o bem-estar moderno.

Essa linguagem de bem-estar também aparece no arquétipo clean girl (ou “garota limpa”): roupas descomplicadas, maquiagem quase invisível, cabelo natural, acessórios minimalistas. É uma forma de se mostrar saudável, centrada e elegante sem esforço. A principal representante desse estilo é Hailey Bieber, que vai além dos looks do dia a dia e incorpora a filosofia clean girl em sua marca Rhode, refletida tanto nos produtos de skincare quanto na identidade visual minimalista da marca.

Novas formas de socializar

Outro reflexo desse movimento está no consumo de bebidas álcoolicas. Estudos mostram que a Geração Z já opta, em parte significativa, por alternativas saudáveis ou sem álcool quando sai. Isso tem gerado novos formatos de lazer: cafés que se tornam pontos de encontro, festas diurnas e até “baladas” matinais em cafeterias. O social não desaparece, apenas se reinventa em sintonia com a saúde e a vitalidade. Um ótimo exemplo disso são as coffee raves, que estão em alta: encontros animados com DJs e café, provando que dá para se divertir com estilo e vitalidade, sem abrir mão da saúde.

Nostalgia como refúgio

A busca por bem-estar também passa pela memória. Não por acaso, a moda resgata os anos 80, 90 e 2000: silhuetas conhecidas, músicas revisitadas, filmes como O Diabo Veste Prada voltando ao imaginário coletivo. A nostalgia se torna abrigo emocional em tempos de excesso de estímulos, trazendo conforto justamente por evocar familiaridade.

Nesse cenário, produtos lúdicos como Bobbie Goods e Labubu brilham. Bobbie Goods, com seus livros de colorir, devolve aos adultos a experiência infantil de pintar sem objetivo — uma pausa terapêutica alinhada ao wellness. O Labubu, toy art  de Kasing Lung lançado pela Pop Mart, transformou-se em acessório de moda global, pendurado em bolsas de fashionistas em Tóquio, Milão e São Paulo. Ambos materializam a mesma ideia: brincar não é perda de tempo, é ferramenta de saúde mental.

Objetos que duram

Nesse cenário, o consumo rápido perde espaço para escolhas duráveis, atemporais e capazes de atravessar estações sem perder relevância. Peças de moda e acessórios minimalistas se fazem presentes de forma sutil, compondo os rituais diários de autocuidado e estilo.

Clássicos como pérolas, joias em prata e itens em fibra natural estão em alta, refletindo a busca por design limpo e longevidade em meio à saturação do fast fashion (ou "moda rápida"). São escolhas que valem o investimento, resistem às tendências passageiras e atravessam gerações, com marcas independentes ganhando espaço ao propor produtos que se mantêm essenciais temporada após temporada.

Outubro Rosa: autocuidado coletivo

Em outubro, o tema ganha ainda mais força. O Outubro Rosa lembra que autocuidado não é vaidade individual, mas prática coletiva de saúde. O movimento reforça a importância da prevenção e da informação, inserindo a estética do wellness em uma causa concreta: cuidar de si para continuar vivendo com qualidade e presença.


Autocuidado, no fim, é isso: alinhar tempo, escolhas e estilo a uma vida que não se mede pela pressa, mas pela permanência. A moda, ao refletir esse movimento, não dita apenas o que vestir, mas como queremos viver.